20 Aug 2012

Paisagem Tropical


Os espaços exteriores a esta moradia concretizam-se em dois aspectos fundamentais. Por um lado um sistema simples de pavimentações em betão esquartelado pigmentado com endurecedor de superfície. E as áreas permeáveis de jardim.

Relativamente aos pavimentos importa dizer que a sua implantação resulta da implantação altimétrica da moradia. Neste caso procedeu-se apenas à micro-implantação através de pendentes superficiais com vista às drenagens pluviais, que resultam na escolha e implantação de sumidouros, cuja rede pluvial será projectada pela especialidade.

Os pavimentos são no geral uma só tipologia – Betonilha afagada mecanicamente e pigmentada à cor ocre – pavimento pedonal e à cor cinza – pavimento viário.

O remate dos pavimentos faz-se extensivamente através de uma contenção em aço cor-ten que nos ressaltos altimétricos faz espelho de degraus – obtendo-se, portanto, uma leitura homogénea e limpa de todo o espaço pavimentado.

Importa dizer, ainda que os movimentos de terras resultam fundamentalmente em dois aspectos – a decapagem de terreno e aproveitamento de solos para plantações (a verificar ainda pelo projectista) e a implantação de estruturas pavimentadas e escadas. No geral, trata-se portanto da criação de caixas de pavimentação. Dadas as alterações topográficas da implantação da estrutura edificada – conclui-se não haver movimentações maiores senão as apontadas e resultantes deste facto.

As áreas jardinadas são fundamentalmente o resultante do encosto dos pavimentos ao limite proprietário, resultando em caixas ou canteiros permeáveis – locais de plantação de todo o tipo de plantas.

As árvores escolhidas são típicas do copado africano – são tamarindos que na sua folhagem verde aberto muita frescura proporcionam. As palmeiras são as reais e compõem o espaço aéreo com a sua folhagem recortada, marcando singularidades e transições.

Toda a vegetação escolhida é da região bioclimática subtropical e tropical, estando portanto em consonância quer do ponto de vista ecológico quer do ponto de vista cultural com a região de Luanda.

11 Aug 2012

PAISAGEM URBANA . UMA APROXIMAÇÃO
 

Ilustração 1 – Imagem de Luanda, um desenho pode permitir uma leitura imediata da cidade.


Paisagem urbana poderá ser entendida como o conjunto dos elementos formais e substantivos que para lá do tecido edificado compõem uma sucessão de acontecimentos – formas - com base em ponto, linha e mancha cuja percepção humana introduz no observador a noção de certa coerência e referenciação ao nível do espaço exterior.

O uso de vegetação em contexto urbano pressupõe o conhecimento da utilização de determinadas técnicas de selecção de e manutenção da própria. O seu papel numa cidade subtropical como Luanda, na qual a precipitação anual acumulada é da ordem dos 300mm e cujos solos são essencialmente solos arenosos profundos de cor pardo alaranjada.

Estes solos com baixo teor de matéria orgânica e pH baixo (indisponibilidade de determinados nutrientes) conduzem a uma necessidade essencial de escolha de vegetação fundamentalmente bem adaptada. Ora é nosso entendimento que a selecção de vegetação bem adaptada é a selecção de vegetação local ou do contexto regional, no pressuposto que a sua susceptibilidade ao rigor técnico está resolvida.

A vegetação urbana tem um valor funcional para além do valor estético. Este valor ambiental associado ao desenho urbano (Praças, largos, jardins, …) consiste na adsorção de partículas, absorção de gases poluentes, produção de oxigénio (durante o dia), amenização e humidificação da atmosfera envolvente através da absorção de radiação difundida pela atmosfera e reflectida pelos materiais inertes envolventes (como pavimentos). A produção de sombra e criação de gradientes convectivos e advectivos é fundamental para a criação de brisas que proporcionam um conforto bioclimático essencial ao bem-estar dos cidadãos.

Outro aspecto fundamental do papel da vegetação em contexto urbano é a manutenção da permeabilidade dos solos, fundamental para os processos de infiltração e alimentação da toalha que tantas vezes é utilizada sob a forma de furos de captação para efeitos de regadio e inclusivamente consumo humano. Este aspecto não só é fundamental neste sentido, bem como na diminuição da probabilidade de acontecimentos extremos do tipo cheia. A infiltração de águas de precipitação permite diminuir a formação de escoamentos superficiais que num contexto urbano podem ser nefastos, com perda de bens materiais e humanos. Este fenómeno é de tal modo importante que a visão integrada dos espaços exteriores permeáveis conduz à noção e prática de um planeamento específico em arquitectura-paisagista, no qual se cruzam as noções e conhecimentos de hidrologia, ciência de solos e vegetação com vista à obtenção de um conjunto de mecanismos e instrumentos de planeamento territorial urbano que, numa abordagem sistémica, permitem o controlo e qualificação efectiva do espaço exterior urbano.

Apenas uma abordagem de conjunto permite a adaptação da forma de conhecimento à realidade. É com base nesse conceito de construção | desconstrução em permanente dinâmica sem perder portanto a noção global que se constitui abordagem sistémica, por contrária ao mecanicismo reducionista, onde há lugar a interdisciplinaridade e consenso intersubjectivo.

Nesta perspectiva, o conjunto dos elementos verdes existentes e propostos bem como os locais vazios da cidade podem ser designados por SISTEMA VERDE E DE PERMEABILIDADE. Constitui naturalmente o cerne da questão de paisagem. É a sua presença que permite à cidade ter espaço de jardim conexo com praça, largo, avenida, etc.; constituindo a referência espacial concretamente definidora de uma paisagem urbana.

O mundo citadino dos domínios do inerte e do vivo que representam na sua concepção natural e cultural, um avanço de civilização pois negam a visão antropocêntrica duma paisagem exclusivamente funcional, e com funções absolutamente extraordinárias (é “ver” o ar que respiramos) mas também cruzam os sentidos e anseios do Belo e da serenidade psicológica que tanto votadas ao esquecimento por vezes estão. É na adopção de critérios de apropriação do espaço exterior da cidade em função de um mosaico de funções (diversidade) que o homem urbano convive com a paisagem em vários sentidos como sejam as actividades culturais produtivas, recreativas e contemplativas.
 


Ilustração 2 – Imagem de Lisboa, um processo de depuração formal com a representação do essencial pode contribuir para a identificação e referenciação espacial no contexto da cidade.
A definição sistemática, como em gráfico abaixo, das características de vegetação existente e a propor sob a forma de tipologias de ocupação do solo estratificadas em tipo fisionómico, uma aproximação populacional e ao nível da comunidade permite compreender as diversas interacções e sub-tipificação que poderão ser ferramentas de matriz ecológica na abordagem ao planeamento e projecto. A matriz ecológica de acção em projecto é também uma matriz cultural, no sentido que determinados sistemas naturais repousam resilientemente em estados evolutivos de natureza antrópica. Quer isto dizer que o homem é também ele, um construtor de paisagem, no sentido de uma profunda interpretação dos códigos e processos de manutenção e criação da própria.

Ilustração 3 – Esquema de abordagem à ”sub-bacia” paisagem da Ilha de Luanda; a desconstrução é elementar para voltar a construir sob a forma de projecto de paisagem, ´local´ onde se cruzam os domínios do material vivo e inerte. Em projecto de arquitectura-paisagista nota-se a influência da presença multifactorial de relacionamentos objectivos e subjectivos que conduzem a determinada complexidade na sua actividade.

A análise de elementos gráficos de levantamento permite definir os critérios de uma sistematização paisagística que compreende as grandes manchas do contínuo que articuladas por uma ulterior proposta através da definição de áreas de articulação ecológica com pressupostos de projecto muito concretos e experienciados em muitas cidades do mundo poderão levantar uma verdadeira Estrutura Ecológica Municipal a par dos complementos de uma meta-estrutura descontinua que favorece o ambiente urbano ao nível pontual mas que contribui definitivamente para o macro-contexto da cidade ao nível da climatologia urbana e consequente conforto bioclimático, aliás como referido anteriormente.

A articulação das manchas de vegetação existentes e solo permeável será acompanhada da leitura geomorfológica da paisagem; é neste contexto que surge a leitura topográfica do côncavo e convexo, ou seja do sistema seco e do sistema húmido, respectivamente áreas de captação e distribuição de caudal e áreas de acumulação e retenção de humidade.

O sistema húmido não é mais do que a soma e articulação das áreas côncavas que permitem a infiltração e recarga de aquíferos bem como a alimentação das camadas superficiais do solo do ponto de vista hídrico. São elementos fundamentais em qualquer interpretação da Paisagem Global (Telles,G.R.).

Consistem nas áreas de maior interesse e sensibilidade ecológica e devem ser interpretadas cuidadosamente quer do ponto de vista da sua hidraulicidade, áreas lineares de escoamento superficial e controlo de cheias, aspecto altamente relevante na cidade de Luanda dada a concentração de precipitação em acontecimentos de chuvada de grande intensidade, bem como na sua valorização no contexto do urbanita e incorporação nos sistemas de continuidade e recreio urbanos.

Seguidamente surgem os elementos pontuais da cidade; são jardins e pequenas existências que somados são um contributo essencial para a imagem da cidade. São elementos descontínuos de características essencialmente funcionais (por vezes, não só) e são representados na sua excelência pelo jardim público.

As áreas privadas, fundamentalmente logradouros e quintais são também elementos a considerar na estrutura de permeabilidade do solo urbano, no papel bioclimático da vegetação urbana, bem como essenciais para a criação da imagem da cidade. Luanda, beneficia fortemente com a presença de maciços de vegetação que saltam os limites do quintal para criar uma atmosfera de cidade não completamente artificializada.
Ilustração 4 – Através do estudo das constantes da paisagem e com base em determinadas técnicas e apoios tecnológicos, podemos produzir uma possível e elementar abordagem à paisagem urbana da cidade de Luanda. Este desenho reflecte uma abordagem muito sintética e pretende apenas representar um conceito genérico de planeamento urbano ao nível da estrutura ecológica urbana.
As áreas inclinadas e taludes são um conjunto de áreas pouco diferenciadas e concretas. São parte integrante do sistema de paisagem e devem ser equacionadas enquanto áreas de risco geotécnico ou ao nível da estabilidade de solos, sendo portanto de encarar a sua efectivação à luz do conceito de áreas de integração e muito possivelmente susceptíveis de acções de projecto e obra de recuperação paisagística.


Finalmente, surgem os alinhamentos arbóreos urbanos que constituem, no essencial, um conjunto contínuo de coalescência do copado urbano. Estas sebes arbóreas urbanas não devem ser menosprezadas pois é na orla da copa das árvores que se dá uma forte actividade biológica.
Observa-se frequentemente nas cidades a actividade ecológica faunística (sobretudo aves e pequenos mamíferos, bem como insectos) que apenas e só existe tendo como suporte a vegetação. É um dado – sem vegetação não há fauna, e isso representa o estado maduro dos ciclos da água e matéria orgânica bem como nutrientes que em qualquer contexto são as etapas superiores duma sucessão de vegetação de caracter potencial – Dever-se-á privilegiar a utilização de vegetação de Luanda em particular. Não é verdade que a vegetação de angola é pouco diversificada e a prova disso é o trabalho de Carrisso (1937) que traduz literalmente este facto.

LAD, 2012

water angle